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Tudo sobre a cultura do marmeleiro

Introdução 

O marmeleiro (Cydonia oblonga), é uma pequena árvore, único membro do género Cydonia, da família Rosaceae, cujos frutos são chamados marmelos. É originário das regiões mais amenas da Ásia Menor e Sudeste da Europa. Também é conhecido pelos nomes de marmeleiro-da-europa, marmelo e pereira-do-japão.

Em Portugal é um fruto que não é normalmente consumido cru, mas cozido, transformado em marmelada, um produto que mais não é que um puré de marmelo cozido com açúcar em partes iguais com o objetivo de o conservar. Pode ser branca (receita aqui) ou vermelha. A cor da marmelada depende, unicamente, do tempo de cozedura. Quanto mais tempo ferver, mais escura fica a marmelada. Também pode ser consumido assado. As sementes também podem ser utilizadas como antidiarréico.

Como curiosidade do marmeleiro, é também dele que se se extraia a vara, instrumento de punição bastante usado no passado.

Origem

O marmeleiro já era cultivado na Babilónia desde a antiguidade (4000 a. C). Parece ser autóctone da Europa Meridional ou das orlas meridionais do Mar Cáspio. Atualmente encontra-se de forma natural, no Centro e Sudoeste da Ásia (Arménia, Turquistão, Síria, etc.). Os gregos conheciam uma variedade comum que obtiveram na cidade de Cydon, em Creta e daí o seu nome científico (Cydonia oblonga Miller ou Cydonia vulgaris Persoon) (Silva, 2010). Pertence à família Rosaceae, subfamília Pomoideae e género Cydonia.

Hoje em dia ainda existem formas selvagens do marmeleiro nalgumas regiões do sul da Grécia, Itália e França. Continua a ser cultivado por toda a Europa. 

Morfologia da planta

A planta possui porte arbustivo ou arbóreo, com de 4 a 6 m de altura, com o tronco tortuoso, de epiderme lisa, acinzentada, que forma escamas, que se desprendem, com a idade. 

A copa é irregular e os ramos jovens são tomentosos. As folhas são caducas, alternas, de 5 a 10 cm de comprimento e 4 a 6 cm de largura, com forma ovada ou elíptica e de pecíolo curto. A página superior é verde escura, glabra e a inferior verde esbranquiçada e tomentosa. 

O sistema radicular é superficial e fasciculado. As flores são brancas ou rosadas, solitárias, surgem nas axilas das folhas, medem 3-7 cm de diâmetro, têm 5 pétalas, 5 sépalas e 20 estames. 

Frutificação

A floração ocorre na primavera, de março a maio. O fruto é um pomo, piriforme, pubescente, de cor amarelo dourado, muito aromático, com 10 a 12 cm de diâmetro e 6 a 9 cm de altura, com ápice em forma de umbigo. 

A polpa é amarelada e ácida, contendo numerosas sementes, semelhantes às da macieira, apresentando coloração castanha escura. Devido à sua elevada dureza, acidez e adstringência (devido à presença de taninos, mucilagens e pectinas) não é normalmente consumido em fresco. Pode ser consumido cozido ou assado, com açúcar, ou depois de transformado em marmelada, geleia, compota, etc.

Os árabes utilizaram o marmeleiro para fins medicinais, dado o seu conteúdo em mucilagem. O marmeleiro também é utilizado como porta-enxerto de pereira (Pyrus communis L.) e de nespereira (Eriobotrya japonica Lindl.) e como planta ornamental com flor e para sebes, porque admite bem o corte. 

Exigências de clima temperatura e solo

É uma espécie bem adaptada ao clima temperado e ao clima mediterrânico (as temperaturas ideais para o seu desenvolvimento situam-se ente os 20º C e os 25º C), de invernos longos e verões quentes. 

O marmeleiro adapta-se a diferentes tipos de solo, dos mais férteis até aos mais pobres, desde que sejam frescos e com reação ligeiramente ácida. Os valores extremos de pH oscilam entre 5,6 e 7,2.

Embora seja pouco exigente em relação aos solos, prefere os franco-argilosos, os argilo-arenosos, bem drenados, bastante férteis, ricos em matéria orgânica e que retenham uma quantidade moderada de humidade.

Pode vegetar junto das ribeiras, sem que o excesso de humidade o prejudique, e ainda em terrenos de regadio ou de sequeiro. É muito tolerante ao encharcamento e asfixia radicular, sendo utilizado como porta-enxerto devido a este fato. As zonas de potencial expansão do marmeleiro são o Ribatejo e Oeste, Centro e Sudoeste do Alentejo, Sul da Beira Litoral e, em menor escala, o distrito de Vila Real.

Pode cultivar-se nas mesmas regiões onde se cultiva a videira, embora resista a temperaturas mais baixas. Nas fases de desenvolvimento vegetativo e de frutificação é exigente em temperaturas altas e luminosidade acentuada. 

É uma das fruteiras mais exigentes em luminosidade. As geadas tardias e os ventos fortes prejudicam o crescimento dos ramos novos, a floração e a fecundação. É pouco exigente em horas de frio, exige de 100 a 500 h, segundo a cultivar. Requer locais arejados, excessos de humidade na estação quente são prejudiciais por provocarem o aparecimento de doenças criptogâmicas.

O marmeleiro é uma espécie susceptível à alternância, sendo esta dependente do estado sanitário do pomar, e tem tendência a iniciar a produção quatro a cinco anos após a instalação.

Plantação

O melhor momento para a realização da plantação é desde o período em que termina a queda das folhas até o fim de Fevereiro/ início de Março.

Em pomar, os compassos são de 6 m x 4 m, condução em vaso e uma densidade de plantação rondando as 450 árvores por hectare.

Existem diversas cultivares de marmeleiro nomeadamente: Gigante de Vranja, Portugal, Comum, Vau de mau, Angers e Fontenay, sendo as duas primeiras as que tem mais expressão no nosso país, tendo abaixo uma comparação entre estas duas cultivares.



O processo de multiplicação pode feito por via seminal, importante para obtenção de novas variedades, e por estacaria realizada a partir de ramos destacados de 25-30 cm em madeira do ano.

O marmeleiro apresenta alguns porta-enxertos para ultrapassar certos problemas, por exemplo, para solos pesados pode-se usar marmeleiro EMA, em solos calcários o BA29, com resistência a nemátodos o EMA e EMC, para reduzir o porte em caso de terrenos férteis o Adams e EMC, no caso dos pouco férteis o BA29.

O marmeleiro pode ser usado como porta enxerto ananicante de pereiras e nespereiras.

Estados fenológicos

Verifica-se que a cultivar Gigante de Vranja é mais precoce do que a cultivar Portugal, iniciando o abrolhamento no início de fevereiro, enquanto esta última, o inicia em meados de fevereiro.

O vingamento e o desenvolvimento do fruto também ocorrem mais cedo na cultivar Gigante de Vranja, assim como, a maturação e colheita, que se verificam a partir da segunda quinzena de setembro nesta cultivar, e apenas a partir do início de outubro na cultivar Portugal. A produtividade média da cultivar Gigante de Vranja é de 18,5 t ha-1 e a da cultivar Portugal é de 12 t ha-1.

Práticas culturais

A rega normalmente é localizada (gota-a-gota), sendo a dotação de 1800 a 2250 m3/ha/ano. A aplicação dos fertilizantes é feita através da fertirrega. O controlo de infestantes é realizado na linha com herbicida de contacto, 2 vezes por ano, e na entrelinha mantém-se o enrelvamento permanente com infestantes espontâneas, que são controladas através de destroçamento realizado com um destroçador de martelos.

Na altura da poda de frutificação, que se realiza de fins de dezembro a meados de janeiro, faz-se o destroçamento da lenha da poda, conjuntamente com as infestantes. A poda de frutificação consiste em retirar alguns ramos e rebaixar a árvore, com o objetivo de estimular os ramos do ano, que conduzirão à frutificação. Retiram-se os ramos que podem alterar o equilíbrio ou ramos que se sobreponham sobre os outros. Todos os anos se eliminam os ramos ladrões.

Acidentes fisiológicos

Por vezes pode surgir o escaldão dos frutos, cuja intensidade depende das temperaturas, que normalmente são muito altas durante o verão nesta região. A cultivar mais sensível é a Portugal, apesar de também afetar a cultivar Gigante de Vranja.

Pragas e Doenças

As pragas mais comuns são os afídeos (Aphis pomi De Geer), o bichado-da-fruta (Cydia pomonella L.) e a mosca do mediterrâneo (Ceratitis capitata Wied).

Esta praga é a que tem causado maiores prejuízos, especialmente na cultivar Portugal. A doença mais importante é a entomosporiose [Entomosporium maculatum (Lév.)], que é um fungo que se manifesta através de lesões necróticas circulares nas folhas, frutos e ramos.

Ocorre com temperaturas de 20 a 25º C, impede o desenvolvimento normal da planta e a produção de frutos de alta qualidade, podendo causar graves prejuízos, quando não é convenientemente controlada.

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